domingo, agosto 08, 2010

10 PERGUNTAS PARA PABLYTO ROBERT - PRESIDENTE DA CBX.


O presidente da entidade máxima do xadrez brasileiro, Pablyto Robert Baiôco Ribeiro, concedeu entrevista ao Blog Xadrez Piraí. Ele fala sobre as eleições da Fide, Campeonato Brasileiro Escolar, apoio do Governo Federal à modalidade entre outros assuntos. Pablyto também fala sobre o inicio de sua carreira politica frente à CBX.

1. Como começou a trabalhar com o xadrez?
Pablyto: Em primeiro plano, acho mais adequado dizer que comecei a trabalhar pelo Xadrez e não com o Xadrez, até porque eu trabalho profissionalmente com o direito (sou advogado) e é com a minha profissão que tiro o sustento da minha família. O Xadrez eu faço por amor ao esporte e por prazer. O dia em que este sentimento acabar, abandono o esporte.
Mas, respondendo sobre o início, foi em 1999, quando ainda era estudante do curso de direito. Eu já participava de torneios no ES, mas apenas como jogador e por hobby, já que sou um verdadeiro capivara. Na ocasião, por termos apenas um árbitro na Federação, resolvi aprender para que ele pudesse jogar também e da minha atuação como árbitro, para o convite a ser diretor técnico da FESX, foi um curto período de tempo. Após 2 anos como DT, surgiu a proposta para que eu fosse Presidente no biênio 2003/2004. Acabou que me convenceram a ficar 2005/2006 e 2007/2008, quando surgiu a CBX para me “salvar” de mais um mandato na FESX.

2. Quando surgiu a idéia de concorrer à Presidência da CBX?
Pablyto: Surgiu do anúncio do Sérgio Freitas, informando que não iria concorrer à reeleição. Surgiu a preocupação de como ficaria a CBX, se haveria no novo presidente o compromisso de manter o trabalho do Sérgio e partir para novos horizontes, já que a última gestão arrumou aquele que era o maior problema da CBX: a arrecadação.
Conversei com alguns amigos do meio (GM Darcy Lima e AI Mauro Amaral) e estes me incentivaram e se colocaram à disposição para me ajudar na campanha. Isto foi logo no início do ano de 2008, o que acelerou o “boca-a-boca” essencial da campanha.

3. De uma maneira geral como você vê o desenvolvimento do xadrez no Brasil? Destacaria algum trabalho realizado por algum estado?
Pablyto: Vejo com bons olhos. O desenvolvimento do Xadrez no Brasil é algo notório na última década. O que vimos nos últimos 5 anos, com o surgimento de mais 4 GMs e vários MIs é uma pequena amostra disto. Alguns estados possuem excelente trabalho de desenvolvimento, especialmente (mas não exclusivamente) na área escolar. Os que mais tenho conhecimento (o que não exclui outros da lista) são, por ordem alfabética: ES, GO, MG, PR, SC e SP. Apesar disto, não estou particularmente satisfeito e nem a diretoria da CBX, que tem se empenhado em pensar novos rumos, para um desenvolvimento ainda maior e homogêneo.

4. O que você acha sobre a proibição dos empates?
Pablyto: Depende de quem vai responder: o jogador (capivara), o árbitro ou o dirigente. Como jogador, acho horrível, porque todo capivara que se preste, quando enfrenta um jogador mais forte, tenta se defender e já costuma oferecer empate no fim da abertura, quando “pensa” que a posição está igual.
Como árbitro, tive essa experiência nas olimpíadas e acho a regra um tanto quanto complicada de se aplicar na prática. Até porque, se os jogadores quiserem empatar, eles vão trocar tudo e ficar com R x R no tabuleiro ou forçar um afogamento, etc. Não há como, legalmente, impedir este resultado, a menos que inventem o famigerado “porco” do jogo de Damas (onde o jogador que fica sem movimento, mesmo ainda tendo peça no tabuleiro, perde a partida).
Como dirigente, especialmente quando a entidade que dirijo promove o evento, gosto da regra de restrição para um determinado número de lances, pois empates combinados, onde não há nem o fim da abertura, acaba tirando o brilho do torneio e gerando reclamação dos jogadores que ficam prejudicados com tais combinações.
Enfim, é muito polêmico e cada um tem uma visão de acordo com sua paixão. Dificilmente outros árbitros e jogadores pensarão como eu. Certamente, a maioria dos dirigentes concordará, mas ainda assim não será uma opinião unânime.

5. Por que a CBX se posicionou a favor do candidato à reeleição da Fide Kirsan Ilyumzhinov? Essa questão não poderia ter sido discutida com as federações ou você vê isso como uma decisão exclusiva da CBX?
Pablyto: Pois é, a princípio eu achei que todos deduziriam fácil e rapidamente os motivos, mas parece que algumas paixões falam mais alto e a objetividade não tem passado perto das ideias de alguns enxadristas. Não tenho o menor problema em responder e acabar com essa enxurrada de questionamentos que me fazem por e-mail. Acho essa entrevista uma boa oportunidade para responder todos.
Eu, como dirigente, não me apego ao currículo de esportista do candidato, mas sim ao perfil de gestor. A eleição não é de melhor jogador, estamos elegendo um gestor, uma pessoa que vai ter que lidar com os problemas naturais de qualquer entidade: arrecadação, despesas, calendário, comissões, etc. O pacote de propostas do candidato Karpov não nos convenceu como gestores (toda a diretoria da CBX). Por maior que seja o respeito aos feitos no tabuleiro, isto não credencia ninguém para uma empreitada de gestão.
O candidato Karpov não tem qualquer experiência prévia relevante como dirigente esportivo. Suas propostas, em nossa opinião gestacional, padecem de argumentos concretos, demonstrações efetivas de que são exequíveis, entre outras fragilidades. É muito fácil colocar em um projeto “vou destinar 300 mil dólares para a América do Sul”, sem mostrar o dinheiro ou assinar um termo de compromisso de que tal quantia virá.
O Kirsan, em que pese o fato de não gozar da simpatia de muitos enxadristas, é um gestor nato. É presidente de um País. É empresário de sucesso. E, por fim, tem longa experiência já frente à FIDE, onde ninguém pode negar que conseguiu diversos avanços, entre os quais, o reconhecimento como esporte olímpico.
Na gestão do Kirsan, a CBX conquistou espaço na FIDE. Só este último critério, já seria o bastante para não desejarmos mudanças, afinal, que garantias teríamos de que as novas alianças do novo presidente não pediriam justamente as cadeiras por nós conquistadas com enorme custo? Trocar o certo pelo duvidoso nunca me pareceu o mais sensato e nisto tive a concordância unânime dos meus vice-presidentes.
Poderia colocar mais um fato muito chato que ocorreu nessa corrida eleitoral, mas não acho que vale à pena...

6. O governo federal tem apoiado o xadrez? Qual sua opinião?
Pablyto: Não tem. Minha opinião: Lamentável! Libera-se uma fortuna para o golfe, esporte totalmente elitista, mas não apóiam o Xadrez, que é uma ferramenta formidável até mesmo para o alcance dos objetivos escolares do Governo, já que é a utilização pedagógica do Xadrez proporciona enorme ganho nas habilidades cognitivas dos estudantes.

7. O que você acha sobre o atual formato para se chegar ao título mundial?
Pablyto: Acho complicado, mas ao menos abre mais oportunidades aos concorrentes, do que no passado. Se imaginarmos que antigamente eram poucos os postulantes, fazia sentido aquele formato anterior. Contudo, nos dias de hoje, com uma centena de GMs fortíssimos, sendo mais de 30 acima dos 2700, não seria plausível um sistema em que apenas uma dúzia teria oportunidade.

8. Quais são os critérios para se sediar uma competição nacional? O que deve ser levado em consideração?
Pablyto: Depende de qual competição nacional. São várias e cada uma tem critérios particulares. O nosso regulamento de torneios, neste ano, trouxe todos os requisitos de cada evento em seu bojo, para maior facilidade de pesquisa. Se tivesse que resumir em poucas palavras, diria que o que se leva em consideração é a proposta mais vantajosa para a competição (ex: se alguém oferece uma premiação de 5 mil para um Regional Sudeste no extremo Norte do Espírito Santo e uma proposta de 4,5 mil surge para realizar o torneio em São Paulo capital, é muito mais vantajoso para o torneio e jogadores a proposta de São Paulo – ou Rio, Vitória, Belo Horizonte – pela facilidade e menor onerosidade de transporte, etc.).

9. O xadrez é considerado esporte olímpico. Mas por que ele não faz parte das olimpíadas tradicionais?
Pablyto: Essa pergunta só pode ser respondida pelo COI. Há diversas modalidades que fazem parte do rol de esportes olímpicos e que não integram as olimpíadas tradicionais (ex: futsal e karatê, que lembro de bate-pronto). É uma questão que deve rondar a mente de vários desportistas, em suas diversas modalidades, que vivem a mesma situação que a do Xadrez.

10. De uns anos para cá todos os Campeonatos Brasileiros Escolares têm acontecido em Minas Gerais? Outros estados não demonstraram interesse em realizá-lo?
Pablyto: Essa questão é interessante. Quando o torneio não parecia interessante aos olhos dos diversos organizadores, ainda na gestão Sérgio Freitas, Minas se propôs a fazer o evento, na raça. Adquiriu um know-how maravilhoso e mostrou que o evento é viável. Agora, todo mundo tem interesse em fazer o torneio, mas as propostas continuam não sendo melhores que a de Minas. Já recebemos propostas das mais inexeqüíveis possíveis para o torneio, assim como propostas alternativas (faço este ou aquele torneio), o que nos faz avaliar com exclusão (se “este” já tem uma proposta e “aquele” não, damos “aquele” para o que se propôs a fazer um dos dois, já que para “este” tem organizador disposto a garantir os requisitos).
Para dar chance aos demais estados, reeditamos os regionais escolares. Até o momento, poucas federações se habilitaram. Tem aparecido mais organizadores avulsos. Novamente, o pessoal não parece disposto a tentar fazer dar certo. Daqui um tempo, quando os regionais estiverem fazendo sucesso, vão perguntar porque um ou outro organizador realiza sempre e eu vou responder: “porque ele sempre investiu para o torneio ser o sucesso que é hoje e merece colher os frutos do investimento, desde que mantenha a qualidade do mesmo”.

O Blog Xadrez Piraí agradece ao Presidente da Confederação Brasileira de Xadrez Pablyto Robert pela entrevista.

2 comentários:

Tads disse...

Excelente entrevista! Faz muito bem para o Xadrez iniciativas como essa, parabéns! Uma dúvida: você abandonou o twitter @XadrezPirai? Sucesso com o blog.

abraço,

Tiago Santos (Rádio Xadrez)
@tasantos

lol disse...

Excelente a entrevista. Parabéns pela iniciativa do blog. Creio que o Presidente dá respostas lúcidas de quem conhece o cenário enxadrístico brasileiro.

Abraços,

Leandro Salles.