Nesta entrevista o GM Rafael Leitão nos conta como foi sair de casa aos 15 anos e encarar mundo e suas dificuldades, como é ser um enxadrista profissional no "País do Futebol" e ainda como concilia sua carreira de jogador profissional com a de Professor.
Rafael Leitão começou a jogar aos seis anos de idade, com incentivo do pai, com nove anos já conquistava seu primeiro título importante, o de Campeão Brasileiro Mirim (Sub 10). Aos 15 anos conquistou o título de Mestre Internacional e em 1998 conseguiu a norma definitiva para tornar-se Grande Mestre.
Em seu currículo ainda possuí os honrosos títulos de campeão mundial Sub 08, Sub 12 e Sub 18.
1. Como foi aos 15 anos de idade, deixar o lar, a
família e dedicar-se ao sonho de tornar-se um Grande Mestre? Seus pais o
incentivaram?
R: Foi uma decisão
muito difícil e sofrida, mas necessária para seguir com o sonho de ser um
profissional de xadrez. Hoje em dia, com computadores potentes e clubes na
internet, é possível jogar bem morando em qualquer lugar, mas na minha época a
única forma de se desenvolver era morando em uma cidade próxima aos torneios. Meus pais me incentivaram, mas foi difícil
para todos.
2. É muito difícil ser um enxadrista profissional
no “País do Futebol”?
R:
Bastante! Para o xadrez no Brasil o clichê de “matar um leão a cada dia” é
bastante válido. Infelizmente sofremos com a falta de incentivo governamental,
o que praticamente impossibilita que tenhamos profissionais de xadrez
exclusivamente dedicados a competições. Os torneios são escassos e com pouca
premiação. Mas seguimos na luta para popularizar o xadrez e reverter a
situação. O mais importante é trabalhar fazendo o que gostamos. E jogar e
ensinar xadrez sempre foi meu sonho e para isso me preparei durante grande
parte da minha vida.
3. O governo brasileiro auxilia financeiramente
atletas olímpicos em várias modalidades, existe algum tipo de auxílio
financeiro governamental aos enxadristas quando representam o país em
olímpiadas, copa do mundo etc.? Se não auxilia, a que você atribui essa falta
de apoio?
R: Para
representar o Brasil nas Olimpíadas, uma vez que não há premiação, evidentemente
recebemos um cachê de participação. Para a Copa do Mundo não recebi qualquer
apoio governamental, tendo que pagar as passagens e as despesas (muito caras,
por sinais), do próprio bolso. Infelizmente o Brasil nunca teve uma cultura
enxadrística, aliás muitos esportes pouco populares se ressentem do mesmo
problema. A única saída é a popularização do xadrez.
R: O formato atual
me parece muito justo, permitindo que o melhor jogador realmente seja o Campeão
Mundial. Lembra muito o formato que vigorava durante as décadas de 50-60.
5. Durante a Copa do Mundo, em redes sociais,
muitas pessoas criticaram os participantes nos empates rápidos, você foi um dos
defensores em algumas situações alegando cansaço por parte dos enxadristas, por
conta da longa viagem, adaptação com o fuso, alimentação etc. Mas em alguns
casos (vamos desconsiderar os problemas extra tabuleiro) você considera que
estes empates rápidos são um certo desrespeito com o público que paga para
assistir alguns eventos (considerando os eventos pagos) e espera ver “batalhas
sangrentas”?
R: Concordo que em
torneios para convidados os jogadores devem evitar empates rápidos. Mas,
sinceramente, este não é mais um grande problema. Na maioria dos torneios (vide
o Gran Prix que está sendo disputado em Paris) as partidas são lutadas até a
última gota de sangue. A Copa do Mundo, como vimos, é um torneio especial. Não
havia dia de descanso e os participantes estavam exaustos. É bom lembrar que em
torneios abertos a situação também não é a mesma, uma vez que os participantes
jogam pela premiação, geralmente sem receber qualquer cachê.
6. Recentemente foi aprovado no Senado, medida que
limita para apenas uma reeleição o mandato de dirigentes de confederações
esportivas, você acha que isso será salutar também para o xadrez?
R:
Certamente esta medida é salutar para todos os esportes e indispensável em um
país democrático.
7. Qual seu palpite para o embate Anand x Carlsen?
R: Se der a lógica,
ganha Carlsen, sem grandes problemas. Atualmente ele é bem mais forte que o
Anand. Mas surpresas sempre existiram no esporte...
8. O que precisa para o Brasil tornar-se um
potência mundial também no xadrez?
R: Muito
investimento, com a massificação do xadrez escolar e grandes patrocínios para
os profissionais. Com isso o Brasil poderia se tornar uma potência em algum
tempo. Basta citar que a China, até bem pouco tempo, tinha pouquíssimos grandes
mestres.
9.Além de enxadrista profissional, você tornou-se
professor de xadrez, como concilia estas atividades?
R: Também me
divirto dando aulas e sempre aprendo alguma coisa com os meus alunos. Tento
reservar algum tempo para o treinamento pessoal, mas às vezes isso não é
possível.
10. Pelas boas quantias em disputa, muitos
enxadristas estão partindo para o pôquer, você também pretende entrar nessa?
R: Respeito e admiro
os profissionais de pôquer (alguns deles muito amigos meus) e gosto de jogar
pôquer para me divertir, mas nunca conseguiria ser um profissional, por dois
motivos. O primeiro é que não consigo aceitar o fato de tomar as melhores
decisões e mesmo assim, no curto prazo, perder. O segundo é que gosto de pensar
na atemporalidade do jogo de xadrez. As
grandes partidas podem ser lembradas e reproduzidas por apreciadores do jogo,
por muitos anos, por gerações. Este lado artístico falta no jogo de pôquer, que
representa um prazer passageiro.
O Grande Mestre Internacional convida a todos para visitarem sua página na internet: www.academiarafaelleitao.com
O Blog Xadrez Piraí agradece ao GM Rafael Leitão pela entrevista.
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