sexta-feira, outubro 04, 2013

10 PERGUNTAS PARA GM RAFAEL LEITÃO.

     Nesta entrevista o GM Rafael Leitão nos conta como foi sair de casa aos 15 anos e encarar mundo e suas dificuldades, como é ser um enxadrista profissional no "País do Futebol" e ainda como concilia sua carreira de jogador profissional com a de Professor.

    Rafael Leitão começou a jogar aos seis anos de idade, com incentivo do pai, com nove anos já conquistava seu primeiro título importante, o de Campeão Brasileiro Mirim (Sub 10). Aos 15 anos conquistou o título de Mestre Internacional e em 1998 conseguiu a norma definitiva para tornar-se Grande Mestre. 
    
    Em seu currículo ainda possuí os honrosos títulos de campeão mundial Sub 08, Sub 12 e Sub 18. 

    1. Como foi aos 15 anos de idade, deixar o lar, a família e dedicar-se ao sonho de tornar-se um Grande Mestre? Seus pais o incentivaram?
R: Foi uma decisão muito difícil e sofrida, mas necessária para seguir com o sonho de ser um profissional de xadrez. Hoje em dia, com computadores potentes e clubes na internet, é possível jogar bem morando em qualquer lugar, mas na minha época a única forma de se desenvolver era morando em uma cidade próxima aos torneios.  Meus pais me incentivaram, mas foi difícil para todos.

2. É muito difícil ser um enxadrista profissional no “País do Futebol”?
R: Bastante! Para o xadrez no Brasil o clichê de “matar um leão a cada dia” é bastante válido. Infelizmente sofremos com a falta de incentivo governamental, o que praticamente impossibilita que tenhamos profissionais de xadrez exclusivamente dedicados a competições. Os torneios são escassos e com pouca premiação. Mas seguimos na luta para popularizar o xadrez e reverter a situação. O mais importante é trabalhar fazendo o que gostamos. E jogar e ensinar xadrez sempre foi meu sonho e para isso me preparei durante grande parte da minha vida.

3. O governo brasileiro auxilia financeiramente atletas olímpicos em várias modalidades, existe algum tipo de auxílio financeiro governamental aos enxadristas quando representam o país em olímpiadas, copa do mundo etc.? Se não auxilia, a que você atribui essa falta de apoio?
R: Para representar o Brasil nas Olimpíadas, uma vez que não há premiação, evidentemente recebemos um cachê de participação. Para a Copa do Mundo não recebi qualquer apoio governamental, tendo que pagar as passagens e as despesas (muito caras, por sinais), do próprio bolso. Infelizmente o Brasil nunca teve uma cultura enxadrística, aliás muitos esportes pouco populares se ressentem do mesmo problema. A única saída é a popularização do xadrez.

4.O que acha do formato de competições para se chegar até a decisão do título mundial?
R: O formato atual me parece muito justo, permitindo que o melhor jogador realmente seja o Campeão Mundial. Lembra muito o formato que vigorava durante as décadas de 50-60.

5.  Durante a Copa do Mundo, em redes sociais, muitas pessoas criticaram os participantes nos empates rápidos, você foi um dos defensores em algumas situações alegando cansaço por parte dos enxadristas, por conta da longa viagem, adaptação com o fuso, alimentação etc. Mas em alguns casos (vamos desconsiderar os problemas extra tabuleiro) você considera que estes empates rápidos são um certo desrespeito com o público que paga para assistir alguns eventos (considerando os eventos pagos) e espera ver “batalhas sangrentas”?
R: Concordo que em torneios para convidados os jogadores devem evitar empates rápidos. Mas, sinceramente, este não é mais um grande problema. Na maioria dos torneios (vide o Gran Prix que está sendo disputado em Paris) as partidas são lutadas até a última gota de sangue. A Copa do Mundo, como vimos, é um torneio especial. Não havia dia de descanso e os participantes estavam exaustos. É bom lembrar que em torneios abertos a situação também não é a mesma, uma vez que os participantes jogam pela premiação, geralmente sem receber qualquer cachê.

6. Recentemente foi aprovado no Senado, medida que limita para apenas uma reeleição o mandato de dirigentes de confederações esportivas, você acha que isso será salutar também para o xadrez?
R: Certamente esta medida é salutar para todos os esportes e indispensável em um país democrático.

7. Qual seu palpite para o embate Anand x Carlsen?
R: Se der a lógica, ganha Carlsen, sem grandes problemas. Atualmente ele é bem mais forte que o Anand. Mas surpresas sempre existiram no esporte...

8.  O que precisa para o Brasil tornar-se um potência mundial também no xadrez?
R: Muito investimento, com a massificação do xadrez escolar e grandes patrocínios para os profissionais. Com isso o Brasil poderia se tornar uma potência em algum tempo. Basta citar que a China, até bem pouco tempo, tinha pouquíssimos grandes mestres.

9.Além de enxadrista profissional, você tornou-se professor de xadrez, como concilia estas atividades?
R: Também me divirto dando aulas e sempre aprendo alguma coisa com os meus alunos. Tento reservar algum tempo para o treinamento pessoal, mas às vezes isso não é possível.

10. Pelas boas quantias em disputa, muitos enxadristas estão partindo para o pôquer, você também pretende entrar nessa?
R: Respeito e admiro os profissionais de pôquer (alguns deles muito amigos meus) e gosto de jogar pôquer para me divertir, mas nunca conseguiria ser um profissional, por dois motivos. O primeiro é que não consigo aceitar o fato de tomar as melhores decisões e mesmo assim, no curto prazo, perder. O segundo é que gosto de pensar na atemporalidade do jogo de xadrez.  As grandes partidas podem ser lembradas e reproduzidas por apreciadores do jogo, por muitos anos, por gerações. Este lado artístico falta no jogo de pôquer, que representa um prazer passageiro.

O Grande Mestre Internacional convida a todos para visitarem sua página na internet: www.academiarafaelleitao.com

O Blog Xadrez Piraí agradece ao GM Rafael Leitão pela entrevista.

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