Seguindo sua série de entrevistas, o Blog Xadrez Piraí entrevistou o atual bicampeão brasileiro, que nos conta sobre o seu inicio de carreira, mídias sociais e revela seus planos para 2016.
Sempre muito simpático e atencioso com os fãs, Krikor é um dos jogadores de maior atividade no país, conseguindo êxito na maioria dos eventos que tem participado. Confira a entrevista! Boa leitura!
Acesse o perfil do Grande Mestre no Facebook.
XP: Como foi o seu inicio de carreira, professores, técnicos, colégio,
etc.?
Krikor: Eu nasci em 1986, e
comecei a jogar com 6 para 7 anos, aprendi em casa mesmo com o meu pai. A gente
jogava uma partida sempre que ele chegava à noite, e foi assim por bastante
tempo. Meu primeiro torneio escolar foi só em 1996, e meu primeiro campeonato
paulista em 1997. No meu colégio, nunca teve xadrez, mas eu cheguei a ensinar
para alguns amigos na minha sala, e acabava sendo uma atividade legal para todo
mundo no intervalo.
XP: Como é ser bicampeão brasileiro? Existe diferença na emoção do
primeiro para o segundo título?
Krikor: Ganhar pela primeira vez
é sempre muito bom, mas esse torneio era bem mais difícil que o outro – além da
participação do GM Leitão, a média de rating do brasileiro em 2013 era de 2297,
e dessa vez 2366, uma grande diferença. E o MI Evandro virou GM logo no começo
de fevereiro. Quanto mais difícil o desafio, maior a sensação de realização
quando dá certo. Com certeza foi maior a emoção de ganhar pela segunda vez.
XP: Você teve uma participação brilhante no Brasileiro, terminando a
competição de forma invicta! Como foi a sua preparação para esta competição?
Krikor: Eu dei mais importância
para o treino tático (resolver exercícios de tática) do que especificamente
para a preparação de aberturas – Isso me deixou mais afiado, e me fez errar
menos. Naturalmente, levei sorte em algumas partidas, algo que costuma acontecer,
quando o resultado é muito além do esperado (eu sabia que podia ganhar o
torneio, mas 10 em 11 era longe da minha expectativa). Confira matéria no chessbase.
XP: Qual foi a sua melhor partida no Brasileiro?
Krikor: Quanto ao nível técnico,
gostei muito da partida contra o Choma (Ernani Choma, atual campeão paranaense) - do jeito que joguei o meio jogo e do arremate
final. Quanto à importância, com certeza contra o Rafael Leitão – uma partida
cheia de erros dos dois lados, mas muito lutada e tensa do começo ao fim.
Confira a partida contra E. Choma.
Confira a partida contra E. Choma.
XP: Após a conquista do bicampeonato, você recebeu inúmeras mensagens
pelas redes sociais. Você se considera um jogador carismático?
Krikor: Isso quem deve dizer são
as outras pessoas, rs! Eu gosto de compartilhar as impressões das minhas
partidas, e tento ser sincero, seja quando jogo bem ou mal. Para mim, serve
como uma espécie de desabafo quando as coisas vão mal e uma comemoração
conjunta, quando vou bem. Acredito que as pessoas gostam disso, tenho um
retorno bem gratificante sempre.
XP: No Brasil, é possível viver profissionalmente do xadrez?
Krikor: É possível sim. Existe
muito campo para dar aulas, organizar eventos, torneios. Para unicamente jogar,
é um pouco difícil, mas ainda assim é viável. Eu tenho alguns poucos alunos
para poder focar mais nos meus objetivos como jogador. Dentro do xadrez, a
carreira com maior estabilidade, com certeza é a de técnico/professor/treinador
(Ainda que para aulas particulares exista bastante instabilidade). E é
importante lembrar que na atual situação do Brasil, poucos empregos tem a
chamada ‘estabilidade’.
XP: No Torneio Internacional de Xadrez, em Caxias do Sul, teve a
oportunidade de enfrentar um gigante do xadrez mundial, Topalov. Como foi enfrentar um ícone do xadrez?
Krikor: Foi uma experiência muito legal.
Eu já tinha tido a sorte de ter contato com outros gigantes – acompanhei duas
vezes o Levon Aronian aqui em São Paulo (2011 e 2012) quando pudemos estudar
junto para as partidas dele, discutir análises, e, em 2014, joguei contra o
Carlsen no mesmo torneio em Caxias do Sul. Apesar de ter sido só uma partida,
foi algo único poder enfrentar o atual campeão mundial. Dessa vez não foi
diferente, e cheguei a jogar 5 partidas com o Topalov, e ele foi muito
atencioso e simpático, analisando todas as partidas comigo, com bastante
humildade.
XP: Recentemente, Magnus Carlsen afirmou que provavelmente venceria
Bobby Fischer em um confronto. Você acha que Carlsen realmente chegou nesse
nível comparável a Fischer, Karpov, Kasparov?
Krikor: É muito difícil comparar
jogadores de outras gerações. Além do fato da preparação de aberturas ter se
desenvolvido muito, a informação que o Carlsen teve acesso é muito maior. Só
para dar um exemplo, Carlsen pôde estudar e aprender com todos os campeões
mundiais e jogadores notáveis antigos, além do próprio Fischer, Karpov e
Kasparov. O Fischer só conheceu quem veio antes dele. A cada geração que passa,
o xadrez vai se aperfeiçoando, por isso acho injusto comparar jogadores de
diferentes épocas. Naturalmente, vejo o Carlsen como o único e absoluto
merecedor do título mundial no momento.
XP: O título de Grande Mestre é a maior láurea honorífica de um jogador
profissional. No entanto, por que os Grandes Mestres europeus e agora os
asiáticos, acabam se sobressaindo alcançado ratings até então impensáveis,
ultrapassando a casa dos 2850, e até 2900 em outros controles de tempo?
Krikor: São vários os fatores, o
xadrez está na cultura de vários países. Quando se ensina um jogo para muitas
crianças, é evidente que vão surgir alguns talentos excepcionais. O clima é um
fator que faz diferença também – é muito mais fácil ficar em casa treinando ou
jogando xadrez, quando você olha pra fora e está nevando. Aqui no Brasil, a
gente tem uma ideia diferente, de fazer sempre esportes em grupo, ao ar livre
(principalmente o futebol, mas também o vôlei, basquete, etc.). Na nossa
realidade, é muito mais fácil convencer uma criança a jogar um esporte coletivo
do que individual. A gente tem esse espírito de proximidade das pessoas. Além
de tudo isso, os grandes centros de xadrez estão na Europa, uma viagem muito
mais longa para nós, aqui na América. Eu e muitos outros jogadores já viajamos
muito para a Europa para aprender, ter esse contato, mas não dá para fazer isso
o tempo todo.
E por último, um ponto importante
é que de certa forma, você acaba se acomodando com a realidade local, e isso
impacta no nível geral. Em um país como a Rússia, onde você tem 2704 de rating
e é o número 9 do país, existe uma chance maior de você se dedicar muito mais.
XP:
Quais seus planos em 2016?
Krikor: O plano pra 2016 é
continuar treinando firme, com a meta de ir se aproximando dos 2600
mais uma vez. Por enquanto, os próximos torneios são todos aqui no Brasil. Quem
sabe mais pra frente aparece alguma viagem pro exterior.
O Blog Xadrez Piraí agradece o GM Krikor pela entrevista.
Fotos: Perfil de Krikor no Facebook.
2 comentários:
Krikor sem duvida é uma das maiores forças do xadrtez Brasileiro,um cara que deve ir longe no chess.
legal
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