quarta-feira, março 23, 2011

O PROFESSOR DE XADREZ!

Extraído do Blog Xadrez Integral.

Quando o professor de xadrez ensina as regras básicas aos seus alunos e os coloca para jogar está também os colocando em uma trilha de delicado equilíbrio. Inicialmente o aluno passa de um modo egocêntrico de jogar, elaborando planos e combinações que poderiam ser realizadas se seu oponente não fizesse lances. Aos poucos, vai percebendo que o lado oposto procura obstruir a realização de seus planos. Ele começa a temê-lo, mas não muda de atitude, continua a jogar do mesmo modo egocêntrico, simplesmente desejando que o adversário não seja capaz de invadir seus planos e vencer a partida. Atingi-se assim um ponto crítico e delicado: o espírito de competição de desenvolve. Como evoluir? Neste ponto a interferência do professor é muito importante para controlar esta força, pois se for deixada sozinha, poderá ter conseqüências perigosas. O espírito de competição exagerado pode levar à concentração de todas as energias numa só atividade limitada, negligenciando a evolução homogênea da personalidade. Pode levar, também, a um grande desapontamento que por sua vez pode deixar marcas profundas no caráter da criança, como falta de autoconfiança, acomodação, etc. Por isso, o professor deve motivar o aluno a jogar xadrez por prazer, mais do que para vencer a qualquer custo. Ele deve mostrar a seus alunos a riqueza das variantes e linhas de abertura, a criatividade do meio jogo e a
25 lógica do final. Em poucas palavras, explorar a beleza do xadrez, ao invés de valorizar a efêmera glória da vitória. Usando as palavras de Tigran Petrossian, Grande Mestre Internacional e Campeão do Mundo de 1963 a 1969:
Uma tendência notável no xadrez moderno é a predominância do elemento esportivo sobre o criativo. O fato de hoje em dia o resultado ser mais importante que o conteúdo é nossa infelicidade, uma infelicidade que o público indiscriminadamente aplaude. Eu não posso imaginar que um jogador, genuinamente amante do jogo, possa sentir prazer apenas com o número de pontos marcados, não importa quão impressionante seja o total. (PAIZES, 1974).
Estas considerações levam à seguinte questão: como deveria ser o professor ideal de xadrez? Lasker escreveu no seu manual: el camino a recorrer hacia esta ense anza requiere buenos profesores, unos maestros de ajedrez que sean al mismo tiempo unos genios de la docencia. (LASKER, 1997, p. 350). Palavras de sabedoria de alguém que deseja formar não apenas um forte jogador, mas também um bom cidadão de uma sociedade melhor. Mas como essa combinação perfeita é difícil de encontrar, o que é prioritário? Um professor de xadrez que seja um bom educador ou um forte jogador? Acreditamos que um bom educador que não seja um forte jogador, poderá atrapalhará a evolução do aluno, enquanto que um forte jogador, que seja um péssimo educador, poderá danificar o caráter da criança. Por isso defendemos que o xadrez nas escolas seja ministrado por professores que possuam tanto o suporte pedagógico, como os conteúdos específicos do xadrez. A seguir apresentamos alguns questionamentos válidos para o professor que irá desenvolver um projeto na sua escola.
26 a) Em que medida o estudo e a prática sistemática do xadrez pode contribuir para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos? b) Esse desenvolvimento esperado da capacidade cognitiva dos alunos é suficientemente valioso, do ponto de vista educacional, para justificar o esforço e o custo extra da organização das aulas de xadrez, bem como o tempo despendido? c) Sobre a influência do xadrez na aprendizagem dos alunos: De que tipo? Somente cognitivo, ou também emocional, de atitude ou moral? É esperado em todos os alunos, em muitos, ou somente em poucos? Quanto tempo de estudo e prática do xadrez é necessário para que tal influência na aprendizagem dos alunos torne-se mensurável? É valioso em que termos? Qual escala de valores? É obtido unicamente pelo xadrez, ou também pode ser alcançado por outros meios? Existem efeitos colaterais ou negativos? Quais? d) Sobre as aulas de xadrez: Em quais séries? Em que nível (elementar ou avançado)? Por quais métodos? Como uma matéria obrigatória ou optativa? Atualmente no Paraná diversos cursos de capacitação são ministrados pelo CEX para os professores que desejam ensinar xadrez nas escolas. Nestes cursos, além de trabalhar os conteúdos referentes à técnica enxadrística, buscamos também discutir as questões citadas anteriormente.

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