O maior evento da minha vida!
É raro me manifestar em primeira pessoa no blog, mas nesse caso não há como não fazê-lo.
Estive em Caxias do Sul de 06 a 09 de março para realizar um sonho de qualquer amante da nobre arte do xadrez. Conhecer um campeão mundial seria algo surreal, enfrentá-lo então, inconcebível. Bem, consegui as duas coisas.
Aqui alguns relatos dos eventos em que estive presente.
SIMULTÂNEA ÀS CEGAS
O primeiro evento em que tive contato com o Campeão Mundial Magnus Carlsen foi na simultânea às cegas na APADEV, associação fantástica que faz um trabalho maravilhoso, e acreditem, sem um único tostão de verba governamental. Nesta oportunidade Magnus enfrentou quatro enxadristas com deficiência visual em pé de igualdade, já que o próprio Magnus jogou com uma venda nos olhos. Quando Magnus chegou ao salão de jogos foi uma sensação diferente, como se estivesse vendo um Pelé, um Jordan da vida, acreditem, o cara tem algo especial. Após a simultânea, com 3 vitórias e um empate (cedido de forma camarada), Magnus atendeu ao público de maneira simpática tirando fotos e dando muitos autógrafos. Foi até engraçado a forma como consegui chegar perto do campeão. Pedi ao amigo Carlos Calleros, que estava arbitrando a simultânea, que levasse a camiseta do nosso Clube de Xadrez até ele na tentativa de pegar um registro único. Calleros foi abrindo caminho e quando chegou perto de Magnus peguei a camiseta das mãos do Calleros e disse nos "melhor" inglês "Carlsen, please, could autograph this t-shirt?" Carlsen virou-se, pegou a camiseta e a colocou em cima de uma mesa e a autografou, em seguida virou-se e tiramos uma foto. Ainda tive tempo de agradecer "Thanks, it is our chess club t-shirt. "Carlsen respondeu "Sure!". Uma questão de segundos ao lado de um dos maiores enxadristas de todos os tempos e que irá marcar para sempre a vida deste jogador de clube.
Cabe aqui um registro sobre os GM's Tiviakov e Peter Nielsen (foto), foram de uma simpatia única com o pessoal presente. Nielsen, certamente conquistou a admiração de muitos ali.
PALESTRA COM MAGNUS CARLSEN
Magnus deu uma palestra bem humorada onde abriu para o público fazer perguntas, comentarem seus lances (o que teve de bola fora rsrsrs), enfim, interagir com o campeão.
Antes de iniciar a palestra, Magnus jogou uma partida-exibição com o Diretor do Evento, André Ricardo Boff, onde Magnus teve 1 min. contra 5 min. de André. O resultado é que em poucos segundos a partida estava definida. Carlsen ainda deu um sorriso quando jogou Dh3 e o mate viria no lance seguinte. André e o público riram da situação. Em tempo, foi este humilde enxadrista que vos fala quem configurou o relógio da partida.
Carlsen falou sobre uma partida em que ele batizou de King's March, ou o Passeio do Rei, onde ele demonstrou e explicou lance a lance de como o Rei pode realmente ajudar, ser de fato uma peça dinâmica (coisa de gênio, para mim, um dos piores capivaras que existe, expor o rei da forma com ele o fez, seria o fim!).
Ao final, por mais de duas horas o campeão respondeu perguntas, incluindo aí o tempo de analise da partida, e pareceu muito convicto de sua importância no cenário esportivo mundial. A mídia que este menino atraí é algo que não se via desde os tempos de Fischer e mais tarde Kasparov.
Ao final, Carlsen, aparentando cansaço da maratona do dia, ainda tirou fotos e muitos autógrafos com todos os fãs, inclusive consegui outra foto com o campeão junto com minha esposa Rafaele e minha amiga Petra. O cara foi show!
Agradeço ao amigo Murilo Gimenez pela força (ele sabe do que estou falando), um amigo e um irmão que pude escolher. Muito obrigado Murilão!
SIMULTÂNEA CONTRA MAGNUS CARLSEN, O GRANDE MOMENTO.
Na sexta-feira, dia 07, às 19h aconteceria o maior momento da minha vida como jogador de xadrez. A chance de enfrentar um campeão mundial (ainda mais o campeão apontado pela crítica como o possível maior de todos os tempos). Nervosismo, ansiedade... não sei explicar ao certo.
Tivemos a oportunidade de ficar hospedados no mesmo hotel do campeão e por vezes sempre o encontrávamos no saguão. Inclusive, neste dia, quando saíamos para a simultânea, demos de cara com Magnus no elevador.
Chegando ao shopping onde seria realizada a simultânea (mais cedo, na hora do almoço, vimos Carlsen com Peter Nielsen no shopping jogando ping enquanto aguardava para ser entrevistado - foto), o público ainda era pequeno e conforme os agraciados com a chance de enfrentar o campeão iam chegando, o público aumentava.
Fomos ocupando nossos lugares, os organizadores preocupados com os detalhes finais, quando finalmente chega o Rei! Foram poucos minutos até que os organizadores explicassem a dinâmica da simultânea. Foram 36 jogadores, que certamente aguardavam pela melhor derrota de suas vidas. Quando Magnus chegou à minha mesa, um breve cumprimento com um aperto de mão e o 1. e4 para começar. Sabe, senti um "alívio" ao ver que o campeão jogou peão do rei.
Havia visto algumas partidas (mas só dando uma olhada mesmo, já que marmelada na hora da morte, mata!), e resolvi que jogaria 1... c5. Ao chegar novamente, 2. Cc3. Puxa! Justamente a variante que tenho maior dificuldade de enfrentar (como se fizesse diferença se ele jogasse algo que conheço um pouco mais.), passado algum tempo, já completamente com a posição destruída (mas feliz demais pois já tinha passado minha "cota" de lances, já estava no lance 20 e apostavam que eu não duraria 15!), algumas pessoas começaram a abandonar, no lance 27 chegou minha hora. Ao chegar à mesa, tombei o rei, o encarei, estendi a mão e ali chegara ao fim a partida mais importante da minha vida, minha derrota mais comemorada. Peguei sua assinatura na planilha, ouvi os aplausos (para Carlsen obviamente rsrsr) e me retirei. Não sei explicar minha sensação até agora.
Havia visto algumas partidas (mas só dando uma olhada mesmo, já que marmelada na hora da morte, mata!), e resolvi que jogaria 1... c5. Ao chegar novamente, 2. Cc3. Puxa! Justamente a variante que tenho maior dificuldade de enfrentar (como se fizesse diferença se ele jogasse algo que conheço um pouco mais.), passado algum tempo, já completamente com a posição destruída (mas feliz demais pois já tinha passado minha "cota" de lances, já estava no lance 20 e apostavam que eu não duraria 15!), algumas pessoas começaram a abandonar, no lance 27 chegou minha hora. Ao chegar à mesa, tombei o rei, o encarei, estendi a mão e ali chegara ao fim a partida mais importante da minha vida, minha derrota mais comemorada. Peguei sua assinatura na planilha, ouvi os aplausos (para Carlsen obviamente rsrsr) e me retirei. Não sei explicar minha sensação até agora.
Carlsen, nitidamente cansado, exaurido pela maratona de compromissos (o que de forma alguma tira o mérito de seus adversários), acabou cedendo 4 empates e foi derrotado pelo paranaense Gláucio Dalla Cort (foto acima), vitória que como era de se esperar repercutiu internacionalmente.
Sonho realizado! Sem mais!
TORNEIO ABERTO
No sábado, começou o Torneio Aberto, com a presença de grandes nomes do xadrez das Américas e alguns europeus. GM's, MI's, MF's e outros tantos jogadores de renome faziam parte do maior torneio que já participei, tanto em número de jogadores quanto em força. Um evento em que se vê um GM (só no título, porque nas atitudes já não é um GM há muito tempo) perdendo na segunda rodada e tantos outros fortes jogadores jogando nas mesas intermediárias, não é um evento normal.
Sérgio Busquete, para mim o melhor jogador de Piraí do Sul em todos os tempos, juntou-se à nós neste dia e morrendo de sono (chegou as 6h da manhã em Caxias) foi participar da primeira rodada.
Para variar um pouco joguei mal. O que, sem demagogia, não me importa, tudo o que eu queria já havia conseguido!
A organização do evento disponibilizou telões com as principais partidas e certamente as mais assistidas foram as do Rei. Entre elas, a que mais me chamou a atenção foram contra El Debs e contra Milos, que segurou o ímpeto do campeão (já havia feito isso no torneio fechado), além de super atencioso com os fãs, Milos é um jogador dos mais fortes e experientes do Brasil em todos os tempos.
O torneio aberto em si, para mim, foi uma oportunidade de tietar outros grandes jogadores (por que jogar era o de menos, minha fase como jogador há algum tempo não é das melhores), todos, com exceção de um alienado (que todos sabem quem é), foram muito amigáveis, deram autógrafos e tiraram fotos.
Carlsen venceu o torneio, invicto e sem muitos problemas. Além de todos os compromissos o Rei ainda teve tempo de jogar futebol com a galera, fez até gol!
A ORGANIZAÇÃO
Quero parabenizar publicamente a organização da Festa da Uva em todas as suas esferas de atuação. Fazer um evento com esta amplitude é algo que certamente não é tarefa fácil. Tive o prazer de ter um maior contato com três dos organizadores, André Ricardo Boff, Jair Rippel Jr. e Joel dos Passos e eles simplesmente foram brilhantes na condução do evento. Parabéns e muito obrigado pela atenção! Em 2016 estaremos aí!!
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